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Vida e obra de Machado de Assis: suas semelhanças e diferenças

Vida e obra de Machado de Assis: suas semelhanças e diferenças

Por Maria Cristiane Alves Costa

  1. INTRODUÇÃO:

O presente artigo tem como objetivo refletir sobre a vida e obras de Machado de Assis, o tão célebre escritor intitulado como “precursor de tendências”, que representa, diante da literatura brasileira, um dos maiores nomes da nossa literatura. Machado escreveu praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário.

Ferrari (2019) menciona em seu artigo que Joaquim Maria Machado de Assis, filho de Francisco José de Assis e Maria Leopoldina Machado de Assis, nasceu em 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro; e que, devido às mortes de sua mãe e seu pai durante sua infância, foi criado pela sua madrasta, Maria Inês da Silva. Ainda pequeno já sofria com a epilepsia e a gaguez. Machado de Assis não era, por conseguinte, filho da favela, mas da chácara, nos dias em que corria vibrante aspiração da classe média nacional.

Estudou em escola pública e teve aulas de francês e de latim com o padre Silveira Sarmento. Aos 17 anos, começou a trabalhar como aprendiz em uma prensa de impressão e começou a escrever, em seu tempo livre e, em 1869, já era muito valorizado como escritor. Entretanto, a maior parte de seu extenso repertório cultural construiu sozinho e conseguiu adentrar no interior da classe burguesa da época, mesmo com as dificuldades por ser negro em uma sociedade ainda escravista.

Sobre as obras de Machado de Assis, Carvalho (2010) afirma que as mesmas possuem uma prosa concisa e elegante, recorrendo a procedimentos estilísticos, como: a paródia, a sátira, as digressões literárias e filosóficas, as conversas com o leitor, a oralidade, o humor irônico, a inter e a intratextualidade, a metalinguagem, o discurso indireto livre, a quebra de paralelismo, a litotes, a preterição e a linguagem impressionista; e que Machado de Assis se introduz na condição humana e projeta seus romances e contos, considerados verdadeiras obras primas. Neste sentido, para falar sobre as obras de Machado de Assis é importante ter consciência da responsabilidade literária de um dos escritores de melhor formação na literatura brasileira.

  1. VIDA DE MACHADO DE ASSIS:

Quando Machado de Assis veio ao mundo, em 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, filho de mãe açoriana e pai negro brasileiro por linha paterna, neto e bisneto de escravos alforriados, o Brasil, desde alguns anos, enfiara-se numa sucessão de revoltas interinas, a maioria das quais vislumbrava a massa dos humilhados e ofendidos, com aos quais, devido à história de sua origem, Machado se alinhava.

Neste sentido, Pardal (2014, p.01) destaca: “Pobre, negro e epilético. Nascido nessas condições, Machado de Assis encontrava-se em condições completamente adversas para que se tornasse, ainda em vida, um dos mais célebres brasileiros de todos os tempos, tendo sido fundador e o primeiro presidente da então renomada Academia Brasileira de Letras e sendo reconhecido como o maior escritor do país”.

Tais lutas o acompanharam pela vida afora, cujos ecos ele registrou, desmontou, tornou a montar por força dos interesses do analista social que sempre se dispôs a ser, sem jamais ter traído o mundo que o viu nascer, ainda que tantos dos seus críticos não conseguissem desenvolver qualquer esforço no sentido de o encontrar por trás da máscara do pernóstico, ou do alienado, ou do doente, ou do ressentido, etc., numa curiosíssima enumeração de disfarces que ora o engrandecem ora o diminuem, a serviço sempre de causas que jamais tomaram por alvo a clarificação da questão social.

Machado de Assis, cujos avós paternos foram escravos alforriados, cresceu no Morro do Livramento. Seu pai era pintor de paredes e sua mãe lavadeira. E foi por meio do apadrinhamento de Manuel Antônio de Almeida – autor do célebre “Memórias de um Sargento de Milícias” – que iniciou sua carreira literária, e também devido ao seu trabalho como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional. Mais adiante engajou na carreira de funcionário público, através da indicação direta da família real, em 1867, por D. Pedro II, no cargo de diretor-assistente do Diário Oficial; e logo depois como assistente de diretor. Já em 1888 recebeu do Imperador uma condecoração oficial da Ordem da Rosa e foi indicado a concorrer ao cargo de deputado pelo Partido Liberal. Machado preferiu retirar sua candidatura para não comprometer sua carreira (PARDAL, 2014).

Com amor e ódio, temperados de fina ironia, o criador de Brás Cubas e o Brasil tiveram de cultivar muita paciência até 1891, ano da promulgação da primeira constituinte, a qual se propôs a cuidar da descentralização do poder nesse perigoso movimento de diástole que, aos olhos do poder que tudo centraliza, ribomba como o trovão prenunciador da tempestade –, da divisão dos poderes, da eliminação do poder moderador, pondo fim ao Senado vitalício, à união da Igreja com o Estado, tendo igualmente criado o presidencialismo e autorizado a liberação dos cultos religiosos.

Sessenta e sete anos foi praticamente o tempo de duração da vida de Machado de Assis, que veio a falecer no Rio de Janeiro, às 3h45min da manhã do dia 29 de setembro de 1908.

  1. PRINCIPAIS OBRAS DE MACHADO DE ASSIS:

Quando Machado de Assis começa a trabalhar, aos 17 anos, como aprendiz em uma prensa de impressão, passa a escrever em seu tempo livre; e 1869 ele já era um escritor valorizado.

De acordo com França (2008), os primeiros contos do escritor datam de 1858 e 1907, período em que Machado de Assis publicou 7 coletâneas de contos: Contos Fluminenses (1870), Histórias da Meia-Noite (1873), Papéis Avulsos (1882), Histórias Sem Data (1884), Várias Histórias (1896), Páginas Recolhidas (1899) e Relíquias da Casa Velha (1906). Assim, nesta perspectiva, são consideradas as principais obras da primeira fase de Machado de Assis: Contos Fluminenses (1870); Ressurreição (1872); Histórias da Meia-Noite (1873); A Mão e a Luva (1874); Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878)

Sobre as primeiras obras de Machado, França (2008) menciona que algumas de suas publicações eram quase sem valor, segundo alguns críticos considerados autores clássicos da atualidade, dentre os quais: Lúcia Miguel Pereira, Massaud Moisés Barreto Filho e Jean Michel Massa. Entretanto, no que se refere aos contos e romances a partir de 1880, outros críticos – como Antônio Cândido, Alfredo Bosi, John Gledson e Roberto Schwartz – atribuem às obras de Machado de Assis grande importância literária na literatura universal.

Conforme Ferrari (2019), Machado de Assis, em sua segunda fase, reinventou o romance brasileiro; e seus personagens tiveram um aprofundamento psicológico e a historicidade deu lugar ao íntimo do ser humano, no que se refere aos seus anseios, além da própria hipocrisia da sociedade burguesa, desnudada em livros como “Memórias Póstumas de Brás Cubas”; e suas principais obras nessa fase são: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881); Papéis Avulsos (1882); Histórias sem Data (1884); Quincas Borba (1891); Várias Histórias (1896); Dom Casmurro (1899); Esaú e Jacó (1904)) e Memorial de Aires (1908).

Sobre as obras de Machado de Assis, França (2008) descreve ainda que nas mesmas busca-se uma compreensão do autor, ao mesmo tempo em que se percebe que o mesmo não nasceu “pronto”, mas que o seu amadurecimento se deu aos poucos.

4.CONCLUSÃO:

Por todas as observações aqui realizadas, pode-se concluir que Machado de Assis ocupa um lugar singular na literatura brasileira. Pode-se, também, perceber que nas narrativas machadianas não há lugar para artifícios dispostos a iludir o leitor sobre alguma referencialidade ou sobre alguma realidade exterior à obra. O que se evidencia, a todo momento, é a construção de um texto que se mostra ao leitor como tal.

Diante dessas análises e reflexões sobre a vida e obra de Machado de Assis, percebe-se que, com o passar dos anos, o autor teve um grande aprimoramento e deixou um vasto legado na literatura brasileira, demonstrando riqueza de detalhes da sociedade da época.

5.REFERÊNCIAS:

  • BARRETO FILHO. Introdução a Machado de Assis. 2ª ed. Rio de Janeiro, Agir 1980.
  • BOSI, Alfredo et al, org. Machado de Assis. São Paulo, Ática, 1982.
  • CARVALHO, Castelar de. Dicionário de Machado de Assis: língua, estilo, temas. Rio de Janeiro: Lexikon, 2010.
  • CARPEAUX, Otto Maria. “Uma fonte da filosofia de Machado de Assis”. In Vinte e Cinco Anos de Literatura. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968.
  • FERRARI, Leonardo. Machado de Assis. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/literatura/machado-de-assis.
  • FRANÇA, Eduardo Melo: Ruptura ou amadurecimento? Uma análise dos primeiro conto de Machado de Assis. Recife. Editora Universitária UFPE, 2008.
  • GOMES, Eugênio. Machado de Assis, Rio de Janeiro, Livraria São José, 1958.
  • LOPES, José Leme. A Psiquiatria de Machado de Assis. Rio de Janeiro, Agir/MEC, 1974.
  • MEYER, Augusto. Machado de Assis 1935 – 1958. Rio de Janeiro, Livraria São José, 1958.
  • PARDAL, Fernando: Machado de Assis e o racismo no Brasil. Disponível em: www.esquerdadiario.com.br/Machado-de-Assis-e-o-racismo-no-Brasil.

 Fonte: www.nucleodoconhecimento.com.br/literatura/vida-e-obra

 

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